Corpus Christi, Lisboa: Associações alertam Câmara e DGPC

04-07-2020

O quarteirão do Corpus Christi, sito em plena Baixa Pombalina de Lisboa, encontra-se há décadas devoluto, e tem vindo a ser objeto de sucessivas transações entre promotores imobiliários.

Em resultado, apresenta hoje claros sinais de degradação, nomeadamente: Coberturas deformadas, com telhas partidas em vários locais, possibilitando infiltrações; estruturas de madeira das coberturas em mau estado de conservação; fachadas exteriores com cimalhas onde se pode observar uma profusa vegetação infestante e parcialmente em desagregação pondo em risco quem circula nas ruas que delimitam o quarteirão; portas e janelas degradadas e com elementos em desagregação, várias das quais permanecem abertas ou com vidros partidos, o que permite o acesso de pombos ao interior dos edifícios agravando a degradação; pavimentos com madeiras em avançado estado de degradação, em particular junto aos apoios, com deformações excessivas; escadas com deformações resultantes da penetração da água da chuva através de danos nas coberturas.

A igreja e o convento do Corpus Christi, que integram um quarteirão da baixa lisboeta, encontram-se classificados como Monumento de Interesse Público pela portaria n.º 628/2013, de 29 de Setembro, fazendo parte do conjunto «Lisboa Pombalina» que se encontra igualmente classificada com Conjunto de Interesse Público pela portaria n.º 740-DV/2012 de 24 de Dezembro de 2012. Para além disso, este quarteirão integra o «Plano de Pormenor de Salvaguarda da Baixa Pombalina» (área I) e a «Lista dos Imóveis e sítios classificados e em vias de classificação» incluída no anexo II do PDM com o nº 71792.

A importância do quarteirão do Corpus Christi, é inegável pois incorpora estruturas de dois importantes monumentos da cidade: a igreja que lhe dá o nome cuja construção é de 1648, e um antigo convento de Carmelitas Descalços com origens em 1661. Após o terramoto de 1755 este complexo conventual foi reconstruído, tendo chegado até nós muitas das suas estruturas (interiores e exteriores), sobretudo setecentistas, mesmo que alteradas por ocupações posteriores. Refira-se, por exemplo a importância da antiga igreja nomeadamente os seus interiores que, apesar do estado de degradação e as alterações sofridas, é facilmente recuperada através de uma ação de conservação e restauro. Igualmente do antigo convento são reconhecidas diversas estruturas importantes como acessos, compartimentos abobadados, antigo claustro, refeitório, dispensa conventual, pátios e saguões etc., sabendo-se ainda da existência de importantes elementos do seu património integrado como pinturas murais e painéis de azulejo situados em vários espaços deste complexo e ainda não inteiramente revelados, presumindo-se, assim, que existirão muitos mais.

Para além disso, tendo em conta as escavações arqueológicas realizadas em época recente, trata-se de um local com uma longa diacronia ocupacional com testemunhos que se podem recuar até à Idade do Ferro, passando por importantes estruturas do período romano. Preservaram-se, ainda, estruturas da antiga Igreja de S. Nicolau e cemitério associado, bem como vestígios da primitiva igreja do Corpus Christi, dois templos anteriores ao terramoto. Igualmente do convento setecentista foram identificadas diferentes construções. Como é possível de constatar, todos estes elementos são bem demonstrativos da necessidade de salvaguardar este quarteirão não só ao nível dos exteriores mas particularmente ao nível dos interiores, dada a profusão de testemunhos raros e de grande valor patrimonial para a cidade de Lisboa.

Tendo vindo a acompanhar as vicissitudes por que tem passado o quarteirão do Corpus Christi, quatro associações subscritoras da Declaração Final do Fórum do Património, decidiram alertar as entidades mais diretamente envolvidas, a Câmara Municipal de Lisboa e a Direção-Geral do Património Cultural para a urgente necessidade de travar o processo de degradação em curso e salvaguardar a integridade do conjunto edificado do quarteirão e do valioso património histórico, artístico e arqueológico, que esse conjunto constitui e encerra, bem como para a necessidade de evitar a todo o custo a implementação de projetos que, de algum modo, possam pôr em causa o riquíssimo património presente no interior do quarteirão.

O alerta foi subscrito por quatro associações agregadas no Fórum do Património, nomeadamente  a Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial (APAI), a Associação Portuguesa das Casas Antigas (APCA), o GECoRPA - Grémio do Património e o Colégio Português da International Network for Traditional Building, Architecture & Urbanism (INTBAU), e dirigido diretamente ao Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e ao Diretor Geral da DGPC.


Ver carta para a Câmara Municipal de Lisboa

Ver carta para a Direção-Geral do Património Cultural